terça-feira, 3 de setembro de 2013

CARTA AOS PALESTRANTES

Todo intérprete conhece bem as dificuldades geradas em seu ofício por palestrantes ou organizadores de evento que não dão a devida importância ao trabalho de interpretação. Seja qual for o motivo – desconhecimento, falta de tempo, sobrecarga de trabalho – sempre que um orador vai ler um texto e este não foi disponibilizado antecipadamente para a equipe de interpretação, sabemos que vem chumbo grosso pela frente.

Além disso, poucos se dão conta, ao organizar suas palestras, de alguns quesitos básicos para que o ritmo de leitura ou apresentação seja favorável à interpretação.

Você já teve vontade de sair da cabine e pedir para um orador ler mais devagar, não ler, ou simplesmente parar tudo e recomeçar do zero para ver se a situação melhora? Se você arriscou a primeira opção, sabe que o palestrante reduz a velocidade por cerca de duas a cinco frases (com sorte!), retomando em seguida o mesmo ritmo alucinado que lhe parece tão natural.

Pois bem, Marianne Lederer, renomada intérprete, professora e autora de obras sobre interpretação, chegou a elaborar uma carta de esclarecimento a ser distribuída aos participantes de congressos e conferências.

Leia a íntegra da carta abaixo e veja o que você acha: seria possível sugerir essa prática (de inclusão da carta) aos organizadores de eventos? Seria utópico demais? Surtiria algum efeito?

De qualquer maneira, vale o exercício de reflexão, pois mesmo que ela nunca chegue às mãos de nossos palestrantes, sempre é bom sabermos o que dizer quando nos perguntarem como podem nos ajudar.

Segue uma tradução em português do texto francês original:

"Texto a ser incluído no programa de congressos:

Tradução Simultânea

Instruções aos oradores:

Os debates desta reunião serão traduzidos simultaneamente. Para que suas apresentações sejam compreendidas pelos participantes que os escutam por meio da tradução, sigam as seguintes regras:

A) Você falará livremente: este é o modo de enunciação mais fácil de ser traduzido e que é melhor transposto a outros idiomas.

Única regra a seguir: entregar antecipadamente aos organizadores, para que sejam passados aos intérpretes, um resumo de sua apresentação e uma lista, em seu próprio idioma, dos termos especializados suscetíveis de serem usados.

B) Você lerá o texto da apresentação que foi escrito anteriormente:

Assegure-se de que os intérpretes de cada um dos idiomas da conferência recebam um exemplar de seu texto ao menos 24 horas antes do momento da apresentação, para que o preparem. Mas atenção: eles farão a tradução integral do texto somente durante a sessão, à medida que ele for lido por você. Além disso,

Adapte o tamanho de seu texto ao tempo de fala que lhe for atribuído, pois uma tradução inteligível exige um mínimo de tempo. Seu ritmo de leitura não deverá ultrapassar 100 palavras por minuto: se você tem 10 minutos de fala, seu texto não será maior do que 4 páginas de 250 palavras, se você tem 20 minutos, 8 páginas, etc.

Uma leitura mais rápida prejudica a compreensão da tradução e priva os ouvintes estrangeiros do benefício de suas palavras.

Não se esqueça de que uma apresentação oral é melhor quando se limita aos pontos principais de uma pesquisa do que quando oferece explicações longas, que é preferível reservar para a publicação.

C) Para todos: Você apresentará slides:

Não se esqueça de incluir o tempo de apresentação dos slides no cálculo de seu tempo de fala.

A tradução está sempre alguns segundos atrás de você. Para evitar que os ouvintes estrangeiros recebam um comentário defasado com relação ao slide diante deles, mantenha alguns segundos de silêncio antes de passar ao slide seguinte."

M. LEDERER*

*Este texto fez parte de uma comunicação apresentada no Colóquio Internacional sobre a Promoção do Francês como Idioma Científico em Bruxelas, em junho de 1982.

Fonte:

SELESKOVITCH, Danica & LEDERER, Marianne. Interpréter pour Traduire. Paris: Didier Érudition, 2001, p. 162.

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