Intérpretes mostram preocupação com
eventos no Brasil
Rafael Galdo
- Para associação, podem faltar profissionais em Copa e Olimpíadas
RIO - Nas Olimpíadas de 2016, estarão reunidas no Rio delegações de cerca de 200 países. Além de questões como infraestrutura e segurança, há outra preocupação: se haverá intérpretes suficientes para fazer com que tanta gente, falando diferentes idiomas, se entenda. Ontem, a cidade celebrou a edição brasileira da comemoração do 60º aniversário da Associação Internacional de Intérpretes de Conferência (AIIC). A entidade aproveitou para enumerar os desafios do Rio e do país para quebrar a barreira da língua e receber bem os visitantes estrangeiros nos futuros grandes eventos.
Só o Comitê Organizador Rio 2016 estima contratar cerca de 500 intérpretes. Embora a AIIC (com mais de 3 mil membros no mundo e 73 no Brasil) afirme não haver dados precisos sobre o número de profissionais na cidade, os organizadores das Olimpíadas acreditam que o evento deve absorver quase a totalidade de intérpretes do Rio — para traduções em inglês, francês, espanhol, português, russo, chinês, japonês, árabe, alemão e libras (linguagem de sinais). Ainda haverá demanda em centros de turismo e órgãos do município e do estado, o que leva o comitê a calcular que será necessário trazer tradutores de outras cidades.
‘Não pode haver mal-entendido’
Já Richard Laver, representante do conselho da AIIC no Brasil, afirma que, com relação à quantidade e qualidade dos intérpretes, a cidade está pronta. Mas ressalta que, para eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, faltam profissionais para trabalhos que ele chama de “comunitários”, em aeroportos, fronteiras, delegacias de turistas e hospitais:
— Haverá voluntários, que ajudarão nas ruas. Mas se um estrangeiro tiver um problema de saúde e precisar ir a um hospital, um intérprete será o mais adequado, porque não pode haver mal-entendido.
A presidente da AIIC, a inglesa Linda Fitchett, veio para a festa no Rio. Com base em suas observações dos últimos eventos internacionais realizados no Brasil, ela diz que o país desempenhou bem seu papel. Mas ressalta que, a partir da Copa do Mundo, as responsabilidades serão maiores:
— Por isso os estudantes têm que recebe o máximo de apoio.
Hoje, segundo a AIIC, além de cursos de formação de intérpretes, há duas pós-graduações em universidades particulares cariocas. Mas a profissão ainda não é regulamentada. E, diz Richard, o governo federal a inclui na Lei de Serviços Gerais.
— Ou seja, nas contratações é observado apenas o melhor preço, o que não é uma garantia de qualidade do serviço — conta, ressaltando uma má interpretação pode gerar gafes, mal-estar e até prejuízos em negociações.
A AIIC foi fundada em 23 de novembro de 1953, na Unesco, em Paris, para garantir melhores condições de trabalho e remuneração para os intérpretes. Muitos de seus fundadores trabalharam no Tribunal de Nuremberg, que julgou os crimes nazistas.
Leia abaixo a entrevista com com Linda Fitchett, presidente da Associação Internacional de Intérpretes de Conferência.
No que se refere à participação dos intérpretes, o Rio deu conta do recado nos últimos grandes eventos internacionais que realizou?
Do que ouvi falar e vi, sim. Mas ano que vem, (o evento, a Copa do Mundo) será ainda maior.
Além do trabalho dos intérpretes, a forma como as pessoas vão receber os visitantes nas ruas também é importante?
Em todos os grandes eventos, os visitantes andam pelas ruas. Na China, por exemplo, nas Olimpíadas de 2008, foi incentivado que as pessoas, mesmo as comuns, aprendessem sentenças básicas de vários idiomas, como cumprimentos e informar onde ficava o metrô ou o ponto de ônibus. Isso cria uma boa imagem para o país. E significa que as pessoas também estão envolvidas.
Deficiências no ensino de idiomas podem explicar dificuldades para a comunicação durante grandes eventos?
Em vários países, e no meu também — sou inglesa — não damos importância suficiente para o ensino de idiomas. Além de intérpretes, há outras atividades que precisam dessa competência de idiomas. É muito importante, por exemplo, no comércio.
Que instrumentos são necessários para a formação de bons intérpretes?
Ser um intérprete não é questão só de saber outro idioma. São necessárias boas habilidades de comunicação, rapidez, entendimento das mensagens, e não apenas das palavras. Para isso, em primeiro lugar, é preciso bom treinamento. O que significa que os intérpretes praticantes também dediquem tempo para formar os novos.
Qual a importância para o Brasil formar intérpretes?
A língua é muito importante. É a forma que cada país e nacionalidade se expressa e cria uma imagem própria para o mundo. Os americanos e ingleses usaram a língua para influenciar o mundo. Como o Brasil se torna cada vez mais importante para o mundo, quer transmitir uma imagem positiva de si. Pode fazer isso com sua própria língua. Mas como o português não é um idioma muito falado, os intérpretes são fundamentais para espalhar a mensagem.