sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Intérpretes mostram preocupação com
eventos no Brasil

  • Para associação, podem faltar profissionais em Copa e Olimpíadas

RIO - Nas Olimpíadas de 2016, estarão reunidas no Rio delegações de cerca de 200 países. Além de questões como infraestrutura e segurança, há outra preocupação: se haverá intérpretes suficientes para fazer com que tanta gente, falando diferentes idiomas, se entenda. Ontem, a cidade celebrou a edição brasileira da comemoração do 60º aniversário da Associação Internacional de Intérpretes de Conferência (AIIC). A entidade aproveitou para enumerar os desafios do Rio e do país para quebrar a barreira da língua e receber bem os visitantes estrangeiros nos futuros grandes eventos.
Só o Comitê Organizador Rio 2016 estima contratar cerca de 500 intérpretes. Embora a AIIC (com mais de 3 mil membros no mundo e 73 no Brasil) afirme não haver dados precisos sobre o número de profissionais na cidade, os organizadores das Olimpíadas acreditam que o evento deve absorver quase a totalidade de intérpretes do Rio — para traduções em inglês, francês, espanhol, português, russo, chinês, japonês, árabe, alemão e libras (linguagem de sinais). Ainda haverá demanda em centros de turismo e órgãos do município e do estado, o que leva o comitê a calcular que será necessário trazer tradutores de outras cidades.
‘Não pode haver mal-entendido’
Já Richard Laver, representante do conselho da AIIC no Brasil, afirma que, com relação à quantidade e qualidade dos intérpretes, a cidade está pronta. Mas ressalta que, para eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, faltam profissionais para trabalhos que ele chama de “comunitários”, em aeroportos, fronteiras, delegacias de turistas e hospitais:
— Haverá voluntários, que ajudarão nas ruas. Mas se um estrangeiro tiver um problema de saúde e precisar ir a um hospital, um intérprete será o mais adequado, porque não pode haver mal-entendido.
A presidente da AIIC, a inglesa Linda Fitchett, veio para a festa no Rio. Com base em suas observações dos últimos eventos internacionais realizados no Brasil, ela diz que o país desempenhou bem seu papel. Mas ressalta que, a partir da Copa do Mundo, as responsabilidades serão maiores:
— Por isso os estudantes têm que recebe o máximo de apoio.
Hoje, segundo a AIIC, além de cursos de formação de intérpretes, há duas pós-graduações em universidades particulares cariocas. Mas a profissão ainda não é regulamentada. E, diz Richard, o governo federal a inclui na Lei de Serviços Gerais.
— Ou seja, nas contratações é observado apenas o melhor preço, o que não é uma garantia de qualidade do serviço — conta, ressaltando uma má interpretação pode gerar gafes, mal-estar e até prejuízos em negociações.
A AIIC foi fundada em 23 de novembro de 1953, na Unesco, em Paris, para garantir melhores condições de trabalho e remuneração para os intérpretes. Muitos de seus fundadores trabalharam no Tribunal de Nuremberg, que julgou os crimes nazistas.
Leia abaixo a entrevista com com Linda Fitchett, presidente da Associação Internacional de Intérpretes de Conferência.
No que se refere à participação dos intérpretes, o Rio deu conta do recado nos últimos grandes eventos internacionais que realizou?
Do que ouvi falar e vi, sim. Mas ano que vem, (o evento, a Copa do Mundo) será ainda maior.
Além do trabalho dos intérpretes, a forma como as pessoas vão receber os visitantes nas ruas também é importante?
Em todos os grandes eventos, os visitantes andam pelas ruas. Na China, por exemplo, nas Olimpíadas de 2008, foi incentivado que as pessoas, mesmo as comuns, aprendessem sentenças básicas de vários idiomas, como cumprimentos e informar onde ficava o metrô ou o ponto de ônibus. Isso cria uma boa imagem para o país. E significa que as pessoas também estão envolvidas.
Deficiências no ensino de idiomas podem explicar dificuldades para a comunicação durante grandes eventos?
Em vários países, e no meu também — sou inglesa — não damos importância suficiente para o ensino de idiomas. Além de intérpretes, há outras atividades que precisam dessa competência de idiomas. É muito importante, por exemplo, no comércio.
Que instrumentos são necessários para a formação de bons intérpretes?
Ser um intérprete não é questão só de saber outro idioma. São necessárias boas habilidades de comunicação, rapidez, entendimento das mensagens, e não apenas das palavras. Para isso, em primeiro lugar, é preciso bom treinamento. O que significa que os intérpretes praticantes também dediquem tempo para formar os novos.
Qual a importância para o Brasil formar intérpretes?
A língua é muito importante. É a forma que cada país e nacionalidade se expressa e cria uma imagem própria para o mundo. Os americanos e ingleses usaram a língua para influenciar o mundo. Como o Brasil se torna cada vez mais importante para o mundo, quer transmitir uma imagem positiva de si. Pode fazer isso com sua própria língua. Mas como o português não é um idioma muito falado, os intérpretes são fundamentais para espalhar a mensagem.

domingo, 6 de outubro de 2013

Tradutores simultâneos: as dores e as delícias da profissão30. 09. 2013
Literatura

Walter Craveiro (Flicker FLIP)
Autores durante a Mesa Livro de Cabeceira, na Flip 2013
Por Maria Fernanda Moraes
 
Na edição deste ano da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), um episódio peculiar chamou a atenção dos espectadores durante a mesa Livro de Cabeceira, que fechava a festa. A tradicional mesa convida alguns escritores que participaram do evento a lerem trechos de seus romances favoritos. O francês Laurent Binet passou a ler o seu excerto  e, depois de alguma confusão, a intérprete responsável precisou fazer a tradução livre da passagem de improviso. O público, percebendo a saia justa, aplaudiu muito no final.
 
A confusão aconteceu porque geralmente, nesses momentos, a organização do evento antecipa a tradução do trecho aos intérpretes, a fim de que tudo fique o mais fiel possível à obra. Branca Vianna e Anna Vianna eram a dupla de intérpretes na ocasião (na cabine de inglês e português, respectivamente). Anna explicou que os organizadores entraram em contato com a editora em Portugal que tinha a obra traduzida, mas foi enviado o trecho errado.
 
“O autor começou a ler em francês e eu, na cabine, ia lendo o que haviam me entregado, mas logo percebi que estava com o trecho errado nas mãos. Optei por parar e avisar, já que fazer um autor russo, [traduzindo a partir] do francês, de improviso, seria leviano. Depois de muito 'corre-corre', trouxeram um iPad com a foto (fora de foco) do livro original, ou seja, em francês mesmo, mas pelo menos dava para acompanhar melhor.”
                                                                                                           Xavier Granet
Apesar da profissão não ser regulamentada, há graduações ligadas ao curso de Letras e especializações
 
Essa certamente não foi a primeira nem será a última situação engraçada na carreira de Anna. “Teve uma vez que eu estava em um evento num resort na Bahia. No final, haveria um show do tipo 'stand-up comedy' e pediram que os intérpretes vertessem para o inglês para os executivos estrangeiros. Lá pelas tantas, uma produtora nos avisou que não precisávamos mais verter e que estávamos convidados para a festa. Pois bem, tomamos champanhe e antes de dar tempo de comer, a produtora voltou toda nervosa dizendo que os executivos decidiram ficar e que queriam tradução. Fazer o quê? Eu já estava tontinha, cabeça leve, mas enfrentei o desafio, e acho que o fato de ter bebido melhorou muito a qualidade daquele trabalho específico. Fiquei bem solta, lembrei de todos os palavrões necessários em inglês e ri muito. Há males que vêm para o bem!”, lembrou Anna.
 
DETALHES DA PROFISSÃO
 
Para desvendar os mistérios da profissão, o SaraivaConteúdo conversou com a equipe de intérpretes que trabalha na Flip e ainda se divide entre outros tantos eventos espalhados pelo país.
Raffaella de Filippis Quental, que também leciona no Curso de Intérpretes da PUC no Rio de Janeiro e lida com o idioma italiano, conta que esse tipo de profissional costuma trabalhar em todas as áreas, de congressos médicos e de petróleo a reuniões de empresas, passando por palestras culturais. “Alguns podem ter mais experiência em uma determinada área, mas é muito raro o intérprete que trabalha somente num segmento”.
 
Segundo Anna, no Rio de Janeiro, por exemplo, há muitos eventos sobre petróleo, então é um assunto que os cariocas fazem bem. “O bom intérprete se prepara, estuda, monta um glossário e ‘enfrenta’ qualquer tema. As áreas mais difíceis, na minha opinião, são as humanas, como filosofia. Para mim, quanto mais técnico, melhor. Basta estudar. Eventos como a Flip são mais difíceis e exigem um tipo de profissional que tenha boa cultura, que leia muito, que conheça bem a cultura do país de onde vêm os autores. Já num evento, digamos, de tubulações para petróleo, você tem um glossário básico e não vai fugir muito daquilo”, explica.
                                                                                                  Arquivo Pessoal
Anna Vianna durante um de seus trabalhos
 
Christopher Peterson trabalha na Festa Literária Internacional de Paraty desde 2004, na cabine inglês/português, e hoje é o coordenador da equipe de intérpretes do evento. Ele diz que cada profissional tem uma bagagem única, mas acha que para traduzir eventos literários não é necessário  e talvez nem conveniente especializar-se nessa área. “A literatura é tão vasta que o mais importante para o intérprete é ter experiência em temas diversificados. A preparação para a Flip passou a estruturar minhas leituras ao longo do ano. Tento ler o máximo possível do trabalho dos autores e sobre eles, mas obviamente sempre falta mais tempo”.
 
A unanimidade entre eles é que as preferências pessoais agregam qualidade ao trabalho. “Trabalhar na Flip é sempre um grande prazer, pois adoro livros e tive inclusive a oportunidade de traduzir um dos meus escritores italianos favoritos, Alessandro Baricco. Esse prazer cria empatia com o palestrante, o que ajuda a entendê-lo e, consequentemente, traduzi-lo melhor”, conta Raffaella.
 
                                                                                                  Arquivo Pessoal
Raffaella de Filippis Quental em ação durante um evento 
 
Ela ainda completa: “No entanto, temos que estar preparados para atuar em qualquer área. Uma vez fui chamada para traduzir uma conferência na Petrobras, mas não me informaram o assunto. Eu estudei os meus glossários de petróleo, pois essa é uma área onde há muito trabalho, mas ao chegar lá descobri que seria uma palestra do escritor Fritjof Capra, que tem um trabalho muito interessante e que admiro. Foi uma grata surpresa, e o meu conhecimento prévio ajudou a compensar o inesperado da situação”.
 
Para Anna, simpatias sempre ajudam, mas antipatias não atrapalham. “A verdade é que vou até me preparar mais para o que não conheço. Mas se a antipatia for grande, o intérprete deve se manter neutro ou não aceitar o trabalho. Fazer tradução simultânea de discursos políticos também não é fácil para alguém que tenha ideologias contrárias, mas o bom profissional vai saber ser neutro e não deixar sua opinião afetar a qualidade do trabalho”.
                                                                                                   Arquivo Pessoal
Equipe de intérpretes da Flip, coordenada por Christopher Peterson
 
FORMAÇÃO
 
Apesar de não ser uma profissão regulamentada, é necessário que o intérprete tenha formação. Os cursos normalmente fazem parte da graduação em Letras, mas podem também ser de especialização (veja box ao final).
 
Na interpretação, a habilidade em línguas é classificada em A, B ou C, sendo A a língua nativa, B a língua em que a pessoa é perfeitamente fluente e para a qual pode traduzir (além da língua nativa) e C a língua que o intérprete fala e entende, mas para a qual não traduz. Um intérprete pode ter uma língua A e uma C; duas A; uma A, uma B e uma C; e assim por diante.
 
INTÉRPRETE E TRADUTOR
 
Embora todos usem a mesma ferramenta (a língua) e em geral sejam autônomos, Raffaella explica que cada profissional trabalha num campo diferente. “O tradutor simultâneo, mais corretamente chamado de intérprete, faz traduções orais em conferências, congressos, cursos etc. O tradutor de livros geralmente trabalha sozinho, em casa. E o juramentado também trabalha em casa, mas traduz basicamente documentos. Além disso, este último precisa passar num concurso da Junta Comercial para exercer a profissão”.
 
“Apesar de muitos de nós eu inclusive fazermos as duas coisas, a diferença é imensa!”, diz Anna. "O tradutor é uma profissão mais solitária. Você não compartilha suas ‘soluções’ com um colega. Na interpretação, trabalhamos em dupla e ajudamos o colega na cabine. Se o colega não souber uma palavra ou se não tiver entendido o que disse o orador, anotamos e ‘damos cola’. É um trabalho em equipe”.
 
Christopher observa ainda que é bastante incomum dar entrevista sobre a profissão de intérprete, que ele considera essencialmente "low-profile". “Acho que a tradução simultânea está funcionando melhor quando ninguém presta muita atenção nela”.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

CARTA AOS PALESTRANTES

Todo intérprete conhece bem as dificuldades geradas em seu ofício por palestrantes ou organizadores de evento que não dão a devida importância ao trabalho de interpretação. Seja qual for o motivo – desconhecimento, falta de tempo, sobrecarga de trabalho – sempre que um orador vai ler um texto e este não foi disponibilizado antecipadamente para a equipe de interpretação, sabemos que vem chumbo grosso pela frente.

Além disso, poucos se dão conta, ao organizar suas palestras, de alguns quesitos básicos para que o ritmo de leitura ou apresentação seja favorável à interpretação.

Você já teve vontade de sair da cabine e pedir para um orador ler mais devagar, não ler, ou simplesmente parar tudo e recomeçar do zero para ver se a situação melhora? Se você arriscou a primeira opção, sabe que o palestrante reduz a velocidade por cerca de duas a cinco frases (com sorte!), retomando em seguida o mesmo ritmo alucinado que lhe parece tão natural.

Pois bem, Marianne Lederer, renomada intérprete, professora e autora de obras sobre interpretação, chegou a elaborar uma carta de esclarecimento a ser distribuída aos participantes de congressos e conferências.

Leia a íntegra da carta abaixo e veja o que você acha: seria possível sugerir essa prática (de inclusão da carta) aos organizadores de eventos? Seria utópico demais? Surtiria algum efeito?

De qualquer maneira, vale o exercício de reflexão, pois mesmo que ela nunca chegue às mãos de nossos palestrantes, sempre é bom sabermos o que dizer quando nos perguntarem como podem nos ajudar.

Segue uma tradução em português do texto francês original:

"Texto a ser incluído no programa de congressos:

Tradução Simultânea

Instruções aos oradores:

Os debates desta reunião serão traduzidos simultaneamente. Para que suas apresentações sejam compreendidas pelos participantes que os escutam por meio da tradução, sigam as seguintes regras:

A) Você falará livremente: este é o modo de enunciação mais fácil de ser traduzido e que é melhor transposto a outros idiomas.

Única regra a seguir: entregar antecipadamente aos organizadores, para que sejam passados aos intérpretes, um resumo de sua apresentação e uma lista, em seu próprio idioma, dos termos especializados suscetíveis de serem usados.

B) Você lerá o texto da apresentação que foi escrito anteriormente:

Assegure-se de que os intérpretes de cada um dos idiomas da conferência recebam um exemplar de seu texto ao menos 24 horas antes do momento da apresentação, para que o preparem. Mas atenção: eles farão a tradução integral do texto somente durante a sessão, à medida que ele for lido por você. Além disso,

Adapte o tamanho de seu texto ao tempo de fala que lhe for atribuído, pois uma tradução inteligível exige um mínimo de tempo. Seu ritmo de leitura não deverá ultrapassar 100 palavras por minuto: se você tem 10 minutos de fala, seu texto não será maior do que 4 páginas de 250 palavras, se você tem 20 minutos, 8 páginas, etc.

Uma leitura mais rápida prejudica a compreensão da tradução e priva os ouvintes estrangeiros do benefício de suas palavras.

Não se esqueça de que uma apresentação oral é melhor quando se limita aos pontos principais de uma pesquisa do que quando oferece explicações longas, que é preferível reservar para a publicação.

C) Para todos: Você apresentará slides:

Não se esqueça de incluir o tempo de apresentação dos slides no cálculo de seu tempo de fala.

A tradução está sempre alguns segundos atrás de você. Para evitar que os ouvintes estrangeiros recebam um comentário defasado com relação ao slide diante deles, mantenha alguns segundos de silêncio antes de passar ao slide seguinte."

M. LEDERER*

*Este texto fez parte de uma comunicação apresentada no Colóquio Internacional sobre a Promoção do Francês como Idioma Científico em Bruxelas, em junho de 1982.

Fonte:

SELESKOVITCH, Danica & LEDERER, Marianne. Interpréter pour Traduire. Paris: Didier Érudition, 2001, p. 162.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A PUC-Rio estará presente na V Conferência Brasileira de Tradutores do ProZ.com, que acontecerá em Recife, 24 e 25 de agosto (vejam aqui o link para a lista de palestrantes: ProZ Conference Speakers)


Abaixo, link para uma entrevista com a Professora Branca Vianna, que vai dar uma palestra chamada  
O Profissional de interpretação no país da gambiarra:

Today’s installment of the Brazil conference speaker interview series highlights the responses of Branca Vianna, who has been working as a conference interpreter since 1990. Branca will be speaking on her professional experience and offers advice to aspiring – as well as current – conference interpreters as part of her presentation at the upcoming event in Recife.
Brazil ProZ conference speaker interview series: Branca Vianna

sábado, 17 de agosto de 2013

Reportagem
Mercado de tradução técnica vive momento de alta
Por Romulo Augusto Orlandini
10/07/2012
“Follow the money”, expressão que ganhou fama na década de 1970 nos Estados Unidos durante o esquema Watergate, agora está sendo utilizada em outro contexto: o crescente aumento de eventos internacionais sediados no Brasil ampliou um campo de trabalho influenciado diretamente pelos investimentos externos, o mercado de tradutores e intérpretes. De acordo com a Associação de Congressos e Convenções (ICCA, na sigla em inglês), o país teve 204 eventos internacionais em 2011, pulando de 9º para 7º colocado entre as nações que mais têm esse tipo de evento. O número mostra um crescimento de 10% em relação ao ano anterior.

Segundo a consultoria Common Sense Advisory, o mercado da tradução deve movimentar US$ 33,5 bilhões em todo mundo este ano. “As expectativas de crescimento da economia estão em contínuo avanço devido aos eventos que estão ocorrendo este ano e pelos eventos esportivos que o Brasil sediará nos próximos anos, que certamente irão gerar muito trabalho nessa área. Isso, mais uma vez, demonstrará a importância da indústria de serviços multilíngues para a economia brasileira, que tenciona movimentar-se em um mundo globalizado”, disse Maria Franca Zuccarello, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e presidente do Sindicato Nacional dos Tradutores (Sintra).

Para Zucarrello, os brasileiros têm a cultura de consumir literatura e filmes estrangeiros, o que torna o tradutor necessário, uma vez que grande parte da população não possui conhecimento suficiente de outras línguas. No entanto, com o recente aquecimento do mercado, a tradução com um perfil mais técnico vem ganhando espaço. Para prosseguir na rota da prosperidade, a economia também tem que “falar e entender” em português: “A tradução técnica está em contínuo aumento, pois as empresas estrangeiras no Brasil já são muitas e são tão importantes que precisam de tradutores em todas as línguas, principalmente as empresas estrangeiras ligadas à Petrobras”.

“Praticamente todos os nichos estão em ascensão: tradução de videogames, de manuais, de filmes etc. Não sei de nenhum que esteja em baixa”: observa Heloisa Martins-Costa, profissional com 32 anos de experiência na tradução e interpretação de francês, inglês e espanhol. A lista de possibilidades de trabalho é extensa: vai desde a clássica legendagem de filmes, passa por tradução de contratos, artigos científicos, áudios, interpretação de palestras, trabalhos nas áreas jurídica e tecnológica até a arena científica do campo médico e farmacêutico, como, por exemplo, fazer versão para o português de bulas de remédios.


Heloisa Costa e Christiano Sanches, da Associação Internacional de Intérpretes de Conferência,
no Centro de Imprensa da Rio+20, no Rio Centro.

Para a tradutora Michelle de Abreu Aio, que escreveu um artigo sobre as armadilhas e desafios da tradução técnica (junto com a docente da Universidade Federal de Santa Catarina, Silvana Polchlopeck), enquanto a tradução literária aparece mais por ser uma atividade artística, a tradução técnica passa despercebida e só ganha destaque por eventuais deslizes. “O tradutor de textos fora do âmbito literário só é percebido quando há um erro notável o suficiente para causar problemas na execução de algo indicado pelo texto – na operação de um equipamento, em um procedimento cirúrgico, por exemplo. Do contrário, ele segue invisível como se a imensa quantidade de textos técnicos traduzidos presentes no nosso cotidiano já fosse redigida no idioma de chegada”, diz.

Formação prática ou acadêmica?

Não há dados sobre número de tradutores no país ou movimentação financeira do mercado, reflexo da profissão não ser regulamentada – o que a tira das estatísticas oficiais. Nelas, só é possível contabilizar os tradutores públicos (conhecidos como juramentados, com registro nas juntas comerciais dos estados). Em geral, o perfil do profissional encontrado no mercado de trabalho é misto. Existem graduações específicas para tradutores, mas não é incomum encontrar nativos ou pessoas que moraram no exterior traduzindo documentos. “Os cursos acadêmicos na área de tradução são relativamente recentes. Por isso, é comum encontrarmos o mercado de tradução com ótimos tradutores que tiveram formação em outras áreas, como engenharia, direito, medicina, história, psicologia etc.”, comenta Michelle Aio.

Ela ainda acrescenta que o tradutor com formação acadêmica está mais bem preparado para enfrentar desafios, porque a faculdade agrega discussões sobre língua, sociedade e cultura. “Sem dúvida, o tradutor com formação acadêmica sai na frente, pois já entra no mercado com uma bagagem indiscutivelmente mais ampla do que o tradutor que só possui o conhecimento da língua estrangeira e cujo domínio de todas as técnicas e ferramentas, além da muito necessária consciência linguístico-cultural, corre o risco de ser adquirido em um tempo consideravelmente maior”, diz.

A formação acadêmica pode ser feita de diversas maneiras: ao cursar graduação em letras com habilitação em língua estrangeira, ao cursar diretamente a licenciatura ou bacharelado em tradução e intérprete, bacharelado somente em tradução ou por meio de cursos específicos, como os disponibilizados em escolas de idiomas. Heloisa Martins-Costa, que tem formação nos Estados Unidos, na França e na Bélgica, aponta que somente o fato de alguém falar uma língua estrangeira não significa que possa traduzir ou interpretar em conferências. “Quanto à técnica, é melhor procurar um curso sério, como o que é oferecido pelas universidades, em nível de pós-graduação”, afirma.

Qualidade da tradução

Para ser um bom tradutor, é preciso dominar duas ou mais línguas, além de conhecer novas expressões e vocabulários que vão surgindo no dia a dia. “A pessoa deve entender, falar e escrever no idioma com o qual pretende trabalhar. O ideal é que essa pessoa tenha passado algum tempo no país do idioma escolhido, pois a tradução não trata apenas de palavras. Inclui também a cultura”, esclarece Heloisa Martins-Costa. A tradutora dá a dica de aproveitar o preço baixo das passagens internacionais quando o dólar cai, para conhecer o país e a língua com que se trabalha. Se a viagem não for viável, uma saída é com a ajuda da internet, onde é possível assistir a discursos de políticos, ler jornais e ver programas televisivos – além de poder conhecer as piadas e chistes mais atuais. Os valores praticados para tradução e interpretação são distintos, de acordo com cada tipo e tempo de trabalho (ver tabela abaixo). Porém, uma coisa é certa: quanto mais especializada a área, como, por exemplo, a jurídica e de petróleo, mais bem pago o tradutor será.

Tipo de trabalho
Valor
Tradução de texto do idioma estrangeiro para o português
R$ 26,00/lauda (cerca de 2.100 caracteres por página, com espaços)
6 horas de tradução simultânea
média de R$ 1.300,00
Tradução com roteiro original completo
R$ 180,00 por 10 minutos
Transcrição de 1 hora de áudio em português
R$ 423,00
Fonte: Sintra. Esta é uma tabela meramente de referência. O Sintra apenas veicula
o que é estabelecido pelos próprios filiados e praticado pelo mercado.

Não existem estudos específicos sobre a qualidade das traduções. Em geral, os livros abordam somente as técnicas e maneiras de deixar o trabalho mais fidedigno ao original. “São pouquíssimas as publicações que se ocupam da tradução técnica de modo geral. Sobre técnicas de tradução, há muitas, bem como sobre a qualidade de traduções literárias. Mas muito pouco, de fato, é dedicado ao panorama atual da tradução técnica no Brasil”, avalia a pesquisadora Michelle Aio.

A professora Zuccarello diz que existe um credenciamento feito pela Associação Brasileira de Tradutores (Abrates) – o que daria uma certa garantia ao cliente. No entanto, ela afirma que a livre concorrência ainda é o melhor selo de competência. “O verdadeiro controle de qualidade é feito pelo mercado, que reconhece a qualidade do tradutor independentemente de ele ser formado ou não por cursos universitários na área ou em outras. A qualidade do tradutor passa pela prática, pelo cuidado no uso da linguagem, pela capacidade de transmitir com clareza em uma língua as ideias e conceitos que foram originariamente apresentados em outra”, avalia.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O que a interpretação faz por nós, além de ser nosso ganha-pão? Será que nos torna mais ágeis, mentalmente? Será que evita o Mal de Alzheimer? Será que nos torna capazes de separar o joio do trigo, quando se trata de processar a informação que nos cerca e nos chega de todos os lados? Veja as respostas no vídeo abaixo, da neurocientista Laura Babcock, da Universidade de Trieste.

Can interpretation save your brain?





terça-feira, 9 de julho de 2013

Etiqueta entre intérpretes (part 2)

Segue a segunda parte do artigo de Tony Rosado sobre etiqueta entre intérpretes!

The ten worst things an interpreter can do to another interpreter - part 2*
Dear colleagues:
Last week I posted my first five worst things an interpreter can do to another interpreter. Next, I share the rest of my list in the understanding that there are plenty more examples of these “worst things,” and inviting you to review my top ten, tell us your “war stories” and share your comments and solutions with the rest of us.
Here we go:
  1. To be a bad interpreter.  The individuals who have worked as“interpreters” for many years and even decades, don’t know anything about the profession, don’t care to know anything about it, and are revered by some as “interpreting gurus.”  We all know who they are, where they are, and how they work. They represent a cancer to the profession because they go around providing a deplorable service, often charging good money, and damaging our collective image.  Most of the time they work in a parallel universe and we rarely encounter them, but when we do, our job can be a disaster as we are faced with a situation where we have no partner to consult, no colleague to collaborate with, and no professional to back us up.  A quick remedy when faced with this situation in the booth or the courthouse is to set the rules straight and ask this person to support by doing certain chores that you will assign. When possible, it would be best to postpone the event, even for a short while, in order to find a replacement for the bad interpreter.  There is no solution to the bad interpreter problem described in this paragraph. It is terminal.
  2. To take advantage of your partner.  The interpreters who do not pull their own weight during an assignment and interpret less than the time previously agreed to; do not return to the booth or courtroom on time for the switch, and those who do not help with the preparations: research, development of glossaries, or assignment of tasks.  These are the people nobody wants to work with because there is never a feeling of team interpreting during the event.   A quick on-the-run solution may be next to impossible, but you can at least talk to them before or during the assignment and voice what you expect them to do.  As a long term strategy it is best to avoid them in the future, always declining a job offer by explaining the reasons why you would love to interpret the conference or trial, but with a different partner.
  3. To try to be the “center of attention.”  This is a very real and unfortunate situation that happens more often than you think.  Some colleagues believe that all events: conferences, court proceedings, surgeries, military interrogations, business negotiations, and diplomatic debates, revolve around the interpreter.  They truly believe this to be the case and refuse to understand that we are an important, even essential part to the process, but we are not, by any stretch of the imagination, the “main event.”  Here I am referring to those embarrassing moments when your partner stops everything that is happening and hyperventilating informs those present that the event cannot go forward at this time because one of the three hundred people in the auditorium has a receiver that is malfunctioning, and after the batteries are replaced and everything is “fine” once again, he or she asks the dignitary who is speaking, and on a very tight schedule, to “repeat the last thing you said so that the person with the receiver with the dead batteries doesn’t miss a word” and then goes on explaining what his or her duties are as an interpreter.   I congratulate you if you have never gone through one of this, but surely you have worked with somebody who complains all the time and interrupts the speaker over and over again:   “Excuse me…the interpreter could not hear the statement because the speaker is speaking away from the microphone…”  “…excuse me, the interpreter requests that the speaker move over to the right so it is easier to hear what she is saying…” “…excuse me… the interpreter requests that the speaker slows down so that everything can be interpreted…” A nightmare!  As an instant solution to this problem you should talk to this interpreter and explain that the participants are very important busy people who have very little time to do this; that as interpreters we should try to adapt to the circumstances, and that we are important, but by no means the most important part of the process.  A long term solution depends on the individual interpreter. Your colleagues often mature and grow out of this “self-centered syndrome.”  They will be fine. For those who never change and adapt, the solution will have to be up to you. It depends on how patient you are, how much you value the participation of this particular interpreter, and how well you know your client.  No easy solution, no “one size fits all.”
  4. To publicly correct and criticize other interpreters.  Those know-it-all interpreters with very little social skills and less discretion who vociferously utter vocabulary and terminology from one end of the room to correct what they think was a bad rendition, and sometimes not happy with this, are happy to show even more disrespect to a colleague by loudly stating the reasons why they are right and you are wrong.  It is very difficult to find anything more unprofessional than these actions.  It is true that team interpreting exists so that colleagues can work as a team and cover each other’s back; it is also a fact that we all make mistakes and that sometimes we do not notice them.  A benefit of having a partner in the booth or courtroom is that we can improve our rendition, and in court interpreting even correct the record, by stating our error or omission. However, decency and professionalism, together with a touch of common sense, tell us that there are better ways to correct a colleague or to offer an opinion that have nothing to do with screaming and yelling.  A simple note, sometimes a stare is enough to get your partner’s attention. When faced with this situation the thing to do short-term is to stay quiet, keep your cool. Let it be forgotten by those who witnessed your partner’s crude behavior. Then, at the earliest possible time, always as a professional well-mannered individual, confront him; let him know that this is unacceptable, and that you expect this will never happen again. Do not let him get away with it. A long-term solution would be to avoid this “colleague”like the plague.
  5. To interpret in a way that hurts your partner’s rendition. First we have the colleague who is too loud. So loud that you cannot concentrate. I am talking the kind that makes the booth vibrate when he speaks; the one you can hear better than your booth partner even though he is interpreting two booths away, and second, we have the interpreter who is very slow during relay interpreting to the point that all the booths waiting for the relay start thinking about doing a direct interpretation even if the source language is not their strength.  Short term you need the loud interpreter to concentrate in his volume and long term you need to help him or her find out the reason for this loud rendition. Many times people who speak loud cannot hear very well.  Maybe the long-term solution will be a hearing aid or a special set of headphones. The solution in the relay interpreting case can only be to endure for the day or until adequate replacement can be found. In the future this interpreter should not be used for relay interpreting situations. There are many excellent interpreters who cannot adapt to the pace of relay interpreting. There is plenty of work that does not involve relay interpreting where a good interpreter is needed.
 As you know, this is only the tip of the iceberg. Please review these “ten worst”and if you are up to it, I would love to read your top ten, top five, or even top one.  This should be good…